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Birigüi, São Paulo, Brazil
Tenho 30 anos, sou graduado em Letras pela Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB),graduado em História pela Universidade Toledo de Araçatuba e pós-graduado em Assessoria Bíblica pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, Rio Grande do Sul (EST)em parceria com o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI). Atualmente professor da educação básica de escolas estaduais de SP e cursando o pós-graduação em História Cultural pelo Centro Universitário Claretiano.

domingo, 1 de abril de 2012

“DEVOLVAM A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR”

Há algumas semanas, o secretário geral da ONU para a Rio +20, Sha Zukang, declarou que “Se países como Brasil, China e Índia resolverem copiar o estilo de vida dos países ricos, a conta não fecha. Seriam necessários cinco planetas Terra para atender a tamanha demanda.” *
Fonte: http://eduardopereiradeazevedo.blogspot.com.br/2011/06/imagens-para-o-trabalho-do-9-ano.html acesso em 01/04/2012.

De fato, se países como o Brasil, China e Índia resolverem reclamar os mesmos direitos que países como Estados Unidos e alguns da Europa, o planeta não vai conseguir sustentar tantas pessoas. Como encontrar outro planeta Terra é uma missão bem complicada (que dirá 5!), talvez seria o momento dos ricos pensarem um pouco em tudo aquilo que acumulam e desperdiçam. Afinal, para nós cristãos e todos os crentes em Deus, é difícil imaginar que nosso Pai soberanamente bondoso e perfeito teria planejado mal a construção de sua obra. Teria Ele se equivocado quanto à necessidade de suas filhas e filhos quando arquitetou nosso mundo?

Provavelmente não. E também para Deus não é surpresa que um dia suas criaturas humanas chegariam ao extremo de seu egoísmo a ponto de precisarem de mais planetas para satisfazer sua ambição. Mesmo que existissem dez planetas Terra, com o tempo, aconteceria a mesma coisa. A saída, então, é olharmos para dentro de nós mesmos e de nossa sociedade e observar tudo que deve ser mudado, transformado para que todas as pessoas vivam bem nesta única Terra.

Entretanto, essa transformação não é nada fácil. Não é necessário ir muito longe para ver como a crueldade humana, alimentada pelo egoísmo, ainda predomina.

No final de fevereiro desse ano, aconteceu a tragédia de Pinheirinho. Para muitos, qualificar tal acontecimento como tragédia é um exagero, isso por que não estão na pele daquelas e daqueles que perderam sua moradia. Outros mais ainda afirmam que essas pessoas sequer deveriam estar ali, que são invasores, marginais, traficantes, vagabundos e que a ação da polícia, que está a serviço do estado, foi correta.

Os problemas já começam por aí. Certamente, o governador e demais políticos não desprezaram os votos da população de Pinheirinho, nem mesmo lembraram-se, no ano anterior, que a população ali instalada necessitava de um lugar para morar.

Pois bem. O governo é eleito pelo povo e está a serviço da população, incluindo os seres humanos, cidadãs e cidadãos votantes de Pinheirinho. Este mesmo governo possui inúmeros servidores públicos, dentre eles, os policiais que efetuaram o ataque à população de moradores de Pinheirinho, 1,5 mil famílias, que não eram compostas unicamente por traficantes, vagabundos, marginais e invasores, mas de crianças, jovens, mulheres, idosos e idosas e homens que procuravam um lugar para viver.

Na verdade, quem acredita em Deus, também deve acreditar que a terra é de Deus. Deve saber também que esse mundo é emprestado a todos os seres humanos para que dele desfrutem fraternalmente. No entanto, não é bem assim que acontece, principalmente quanto ao “fraternalmente”.

Existem muitas pessoas que se consideram no direito de possuir e acumular propriedades extensas, enormes espaços do mundo de Deus, para sabe-se lá o quê. Afinal, todo mundo morre um dia e nada leva daqui, a não ser as lembranças boas ou dolorosas da vida que teve nesse mundo de Deus.

Voltando ao governo, que está a serviço do público, ou pelo menos deveria estar, noticiou-se muito que sua ação estava a serviço do cumprimento da lei. Acreditando que o governo conheça bem a lei, que o governador e seus companheiros são alfabetizados e possuem capacidade suficiente para interpretar textos, é difícil pensar que na lei esteja disposto que se deva usar a violência para uma desocupação de moradores pobres. Mais difícil ainda é entender por que o governo, que está a serviço da população que o elegeu, defende interesses de um indivíduo e não do coletivo. Sim, e o indivíduo em questão é o senhor Naji Nahas “proprietário” do local e que já foi preso por crimes financeiros e lavagem de dinheiro. É possível refrescar a memória sobre esses fatos com uma rápida pesquisa na internet.


Não se sabe ao certo como Nahas adquiriu essa propriedade. Segundo o site http://pt.globalvoicesonline.org/2012/01/24/brasil-pinheirinho-massacre/ “(Nahas) passou a proprietário do terreno no início dos anos 80 embora não exista informação sobre como foi feito o processo de aquisição após o assassinato nunca solucionado dos antigos donos, em 1969.”


Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6M5X-9z4WYPBW3o3gwE_pGYTIf2qECGld-3jnqYP_X6SA-FjA9i7szPM19ZmB19Ys-QK7Hd3_jmIoOdfa6hPTcVz3iZ1BM20vwzLLw3E83QGkw87x51zpqTBymY5Pz15oH4-gC7sS5qg/s1600/pinheirinho.jpg acesso em 01/04/2012.

Segundo o delegado Protógenes Queiroz, a situação falida de Nahas e sua empresa, SELECTA, tem profunda ligação com o acontecimento em Pinheirinho. Para ele: "Se a região for vendida, esse valor será descontado da massa falida da Selecta, que se abaterá das dívidas que estão no nome de Naji Nahas. Ele é interessado direto em desalojar as pessoas que estão lá.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Naji_Nahas#cite_note-GlobalVoice-14).

Dessa forma, é difícil saber quem realmente é o criminoso na história: o povo que busca um lugar para viver ou o “dono” da propriedade e suas contas duvidosas.

Para piorar a situação, há ainda uma denúncia de que houve violência sexual praticada pela polícia em duas mulheres, uma delas menor de idade. A denúncia veio do senador Eduardo Suplicy e gerou discussões no senado.

Entretanto, a questão da terra não se torna um problema apenas no Brasil. Em comunhão com nossas irmãs e irmãos indígenas awás, ao norte do Equador e ao sul da Colômbia, devemos nos atentar para a verdadeira invasão de mineradoras ilegais. Essas mineradoras querem comprar as terras dessa gente para explorar todos os recursos e acabar com a natureza local cujos rios já estão contaminados. Segundo Juvencio Nastajuaz, pai de 7 filhos e líder da comunidade de Pambilar, uma das 22 que formam a Federação de Centros Awás do Equador (FCAE): “Nós vivemos semeando nossa horta para sobreviver, colhendo frutos e caçando animais” “"Elas [mineradoras] querem comprar nossas terras, mas não aceitamos. Oferecem dinheiro, mas sabemos que se vendermos tudo será destruído" .**
 
Os indígenas Munduruku do Pará também sofrem com a pressão e promessas de riquezas da Celestial Green, empresa irlandesa que comercializa créditos de carbono. A tal empresa se declara proprietária dos direitos ao crédito do carbono de 20 milhões de hectares da Amazônia brasileira. Segue um trecho da reportagem disponível em http://br.noticias.yahoo.com/a-terra-é-dos-indios-e-o-carbono--é-de-quem-.html?page “Primeiro, ele [representante da Celestial Green] falou que o projeto é para defender os povos indígenas. Disse que não podia mais mexer na terra, nem branco nem indígena. Quando ouvi essa conversa, era bom”, conta Osmarino Manhoari Munduruku, cacique de uma das 111 aldeias onde vivem mais de 6 mil Munduruku. “Depois, ele mandou o papel para associação. Nós vimos que, onde esse projeto tá, não pode fazer roça, nem caçar, nem pescar. Hoje estamos acostumados de plantar mandioca, batata, cana, batata doce, banana. A gente pesca, caça, tira madeira quando precisa. Mas eles dizem que não podia mais, eles mesmos iam dar o dinheiro para comprar os alimentos. E os indígenas não pode mais fazer nada, nada, nada. Aí a maioria achou que não é certo”.
Fonte: http://tribunodahistoria.blogspot.com.br/2010/06/os-primeiros-anos-da-colonizacao.html acesso em 01/04/2012.

Diante de todos esses acontecimentos e com a chegada da Quaresma, seria interessante fazer uma leitura atenta ao texto do evangelho de Mc 12, 13-17 e prestar uma atenção especial à pergunta que os fariseus e os partidários de Herodes fizeram a Jesus: “É lícito ou não pagar o imposto a César? Devemos pagar ou não?”(vs. 14) e Jesus responde: “Devolvam a César, o que é de César e a Deus o que é de Deus” (vs 17). Porque perguntam a Jesus se se deve pagar imposto? Havia quem não pagava? Porque não pagar?

Num país em que tantas pessoas reclamam dos altos impostos, devemos perguntar se é lícito pagar imposto por aquilo que Deus nos deu. Devemos perguntar se é lícito pessoas morrerem para que saiam da terra que Deus lhes deu. Devemos perguntar se é lícito que, em nome da ganância, do egoísmo e do coração duro, indígenas devem ter seu lar destruído.

Jesus, após pegar a moeda com a imagem do imperador, diz para devolver a César o que é realmente de César, ou seja, a moeda e não a terra. César não é dono da terra. Jesus não fala diretamente que não se deve pagar imposto a César. Declarar isso seria se rebelar abertamente contra os romanos e a consequência seria a morte imediata. Não é justo pagar imposto a Roma . Os romanos invadiram (tal como as mineradoras, tal como a polícia) a terra do povo. A terra é de Deus!


Fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-questao-terra-no-brasil.htm acesso em 01/04/2012.


Infelizmente, muitos hoje ainda aceitam e entendem que é legítimo que poucos tenham muito e que muitos tenham pouco. Aceitar as desigualdades sociais, seja por qualquer motivo, é acomodar-se à injustiça, é repousar no conforto do egoísmo, é não querer entender o que está por trás das cortinas da alienação. O profeta Isaías já denunciava: "Ai dos que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo até que não haja mais espaço disponível". (Is 5, 8)

Deus nos fez para viver neste planeta e aqui aprender a partilhar e viver em harmonia. Tudo que Deus criou tem o bem como finalidade. Nós é que colocamos inúmeros obstáculos com nossas imperfeições.

No entanto, é preciso saber que Deus é justo e, por meio de Jesus, ele nivela as desigualdades. Ele ressuscita o justo, alimenta o pobre e consola a viúva.

*Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/vamos-precisar-de-cinco-planetas-terra-diz-sha-zukang-4224746#ixzz1oodeDqgo acesso em 11/03/2012. © 1996 - 2012. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.




terça-feira, 20 de março de 2012

PARÁBOLA DO HOMEM IMPRUDENTE

Certa vez, havia um jovem que morava com sua avó, uma senhora muito pobre e doente. Apesar de magricelo, todos os dias ele ia para a roça trabalhar. Saía bem cedo e voltava quase à noite. O caminho era distante e o jovem o percorria a semana toda a pé.


No caminho para o trabalho, ele passava por uma rua de um bairro muito rico, com casas muito bonitas. Uma destas casas pertencia ao homem mais rico do bairro e esse homem possuía um animal de estimação: um jaguar feroz.

O animal era grande e ficava preso a uma corda muito fina. Toda vez que o jovem passava, o jaguar avançava muito bravo, no entanto, o jovem não tinha muitas opções para mudar de caminho, pois aquele era o caminho mais próximo para sua morada, caso contrário, chegaria muito mais tarde e ele precisava ajudar sua avó com o jantar e sentar-se à mesa com ela para partilhar o pão amanhecido. O máximo que podia fazer era atravessar a rua para não passar tão próximo da fera.

Um dia, o jovem voltava muito cansado do trabalho e, passando pela rua onde morava o rico com seu jaguar, escutou um rugido muito alto. Era a fera que havia escapado e estava a poucos metros dele. O rapaz tentou correr desesperadamente, mas o jaguar foi muito mais veloz e ágil e o capturou. Mesmo o rapaz se defendendo, não pôde suportar o ataque do animal que, em poucos minutos, já estava com coração do jovem entre as presas.

Ao ver aquilo, o dono do jaguar pegou o animal e levou para dentro de sua casa e o limpou, entretanto, havia testemunhas que, de longe, puderam ver o ataque.

Foram imediatamente avisar a avó do rapaz. Esta ficou muito triste e se desmanchou em lágrimas, pois era o único filho de sua filha, a qual havia morrido há um ano atrás.

Passados alguns dias, o dono do jaguar e a avó do rapaz assassinado foram prestar contas ao juiz - O que a senhora tem a dizer? - perguntou o juiz. A avó do rapaz respondeu: Era meu único neto, não sei mais o que fazer. Estou desamparada e meu coração é cheio de tristeza, pois perdi um filho! - e continuava chorando e batendo no peito: - Eu me derramo como água e meus ossos todos se desconjuntam; meu coração está como cera, derretendo-se dentro de mim.

O juiz ficou incomodado com aquilo e mandou que a mulher se calasse. Depois, pediu ao homem rico: O senhor pode me dizer o que aconteceu? - eis que o homem respondeu: Meritíssimo, eu lamento muito o sofrimento desta mulher, mas a culpa não é minha e muito menos do meu jaguar, pois é um animal e não tem juízo. Sempre o deixei amarrado e dentro de casa. Certamente, o rapaz deve tê-lo provocado e até mesmo tentado entrar em minha casa, pois sempre passava pelo bairro espreitando as casas. Se ele não tivesse passado ali, nada disso teria acontecido. Aliás, meu animal poderia ter machucado os dentes, pois o rapaz era puro ossos.

Vendo a argumentação do homem rico, o juiz encerrou o caso alegando não haver motivos para condenar o animal nem seu dono e que, na verdade, o animal estava apenas protegendo seu território.

O homem rico ficou muito satisfeito com a justiça que o juiz lhe havia feito e voltou para casa onde comemorou com os seus a sua inocência.

A senhora voltou para sua casa pobre onde terminou seus dias sob uma terrível angústia.

Em verdade eu vos digo: Ai daquele que usa da lei dos homens para se manter acima de seus semelhantes. Deus é soberanamente justo e bom. Assim como Jesus foi injustiçado e assassinado pelos homens e Deus o ressuscitou, também a senhora idosa será ouvida e consolada e a justiça prevalecerá! Quem souber enxergar por trás destas palavras, que veja!

TEXTO DE FREI BENTO DOMINGUES

[NSI-PT 842] PALAVRA DE DEUS E PALAVRA DA RUA, À PROCURA DA PALAVRA & El teólogo Juan José Tamayo "apartado" de la Iglesia católica


P / INFO: Crónicas e El teólogo Juan José Tamayo "apartado" de la Iglesia católica
Palavra de Deus e palavra da rua, do Frei Bento Domingues
A noite de Nicodemos, do Padre Vítor Gonçalves

PALAVRA DE DEUS E PALAVRA DA RUA

Frei Bento Domingues, O.P.

1. Quando se diz que a Bíblia é palavra de Deus, ninguém, no seu perfeito juízo, pode supor que aquela escrita, na sua grande diversidade de géneros literários, seja de pura cepa divina. É escrita humana, com gramática de línguas identificáveis. A significação divina, que lhes é reconhecida pela fé, não supõe nem implica um ditado sobrenatural. As Sagradas Escrituras nasceram em tradições religiosas, marcadas por várias culturas, transmitindo sempre, no entanto, a convicção de que era Deus que falava - “de muitos modos” - nos tecidos da multiplicidade das suas expressões. É na sinuosidade e nas contradições dos caminhos do tempo que se dá o encontro com a eterna e discreta presença divina.



Dir-se-á que nem sempre foi essa a posição oficial da Igreja e que as leituras fundamentalistas tiveram consequências trágicas para a sua imagem oficial, perante as descobertas científicas. É verdade, mas espero que seja um capítulo encerrado. Num célebre documento da Comissão Pontifícia Bíblica, A interpretação da Bíblia na Igreja (1993) são reconhecidas, de modo criterioso, várias abordagens oriundas das ciências humanas. A grande viragem, porta de todas as outras, ficou consagrada com toda a solenidade: «O método histórico-crítico é o método indispensável para o estudo científico do sentido dos textos antigos. Como a Sagrada Escritura enquanto “Palavra de Deus em linguagem humana”, foi composta por autores humanos em todas as suas partes e todas as suas fontes, a sua justa compreensão não só admite como legítimo, mas pede a utilização deste m� �todo».



Neste sentido, o tema da 3ª Semana Bíblica, promovida pela paróquia de Barcelos, Palavra e Rua, sugere um vasto leque de percursos a fazer por vários mundos do passado, em confronto com as transformações sociais, culturais e espirituais da actualidade. A Sagrada Escritura cresce com as leituras interpelantes e interpeladas de cada época e de cada contexto, sem artificialismos ou anacronismos, casando os métodos das ciências humanas com as aberturas ao Espirito de Deus. Espírito actuante em tudo o que é criação de sentido, de beleza e de responsabilidade ética, com a pergunta antiga e sempre nova: “que fizeste do teu irmão”? (Gen.4). Pergunta que os cristãos têm de levar para a “rua”, diante deste louco liberalismo económico, indiferente à miséria das suas vítimas.



2. A situação de S. Paulo, em Atenas (Act.17,16-34), pode ser apresentada como um caso exemplar, de desencontro e encontro cultural, entre o seu mundo religioso e aquele perante o qual teve de dar testemunho da sua fé em Jesus e na Ressurreição. Como bom judeu, estava horrorizado com aquele espectáculo cheio de ídolos, mas não reagiu com anátemas, como lhe apetecia. Pelo contrário, foi descobrir os anseios daquele mundo, como se ele estivesse à espera de uma palavra nova que interpretasse os seus enigmas. Encontrou um altar ao “Deus desconhecido” e expressões de alguns poetas e filósofos que lhe mostravam que havia a possibilidade de ser escutado ou rejeitado.



Seja qual for a cultura, o Evangelho tanto pode ser um calmante, como um excitante. É sempre uma provocação. Por causa do que Jesus fez a quem era vítima de doenças físicas ou psíquicas, de opressão religiosa ou económica, de exclusão social e moral, os Evangelhos dizem dele o que não se dizia de mais ninguém: Vinde a mim vós todos os que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei. Por outro lado, manifestou uma vontade indomável de violar preceitos e instituições que, em nome de Deus, tornavam a vida das mulheres, dos doentes, dos qualificados como pecadores, um fardo insuportável. Escolheu a rua e as más companhias para significar e dizer a palavra de Deus, a palavra do Amor infinito. Lamentou que os seus contemporâneos não se apercebessem dos sinais do tempo novo que estava a chegar. (Lc. 12, 54-56)



3. No Vaticano II renasceu o tema da interpretação dos “sinais dos tempos”. Esta expressão pode sugerir a ideia de que os cristãos estão fora do tempo e olham de fora para os seus sinais. Seria esquecer a presença – reconhecida ou negada - de Deus, em tudo. Segundo o Ambrosiaster tudo o que é verdadeiro, venha de onde vier, é do Espírito Santo que vem. Os cristãos têm de testemunhar da presença de Cristo na nossa história – estarei convosco até ao fim dos tempos – mas não o podem fazer apenas a partir da revelação bíblica, do magistério eclesiástico e das incarnações da santidade nos séculos passados. É hoje o nosso tempo e é nos seus problemas, acontecimentos e interpretações que se pode escutar a voz de Deus na voz da rua e nunca de forma directa.



Será sempre tensa a relação entre estudos bíblicos e meditação, atenção às expressões da cultura contemporânea e à intervenção na sociedade, isto é, entre acção e contemplação. Por vezes, interpreta-se esta tensão em termos de mútua exclusão: se damos muito a Deus, roubamos à sociedade, se damos muito à sociedade, roubamos a Deus. Tensão não é rivalidade, mas atenção aos dois polos da vida humana e cristã, da rua e do silêncio.



O que não está correcto é pensar que Deus só habita certos tempos e certos lugares.



in Público



NOTA: O Público não respeitou o itálico das citações bíblicas que estavam no original do texto do Frei Bento

Fonte: Divulgação por e-mail.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

CARTA PELA LEI DIVINA

A graça de Deus fonte de todo amor e perfeição esteja com todos e todas!

Irmãs e irmãos, sabemos que a lei de Deus é aquela que traz a vida, mas não só a vida como também a justiça para que haja vida, mas não só a justiça que apraz ao nosso gosto como também a justiça que nos causa dor e é oportunidade de avançarmos na evolução espiritual.

A lei de Deus quer a vida, mas também é justiça e isto é para que todas as mentes se abram a fim de acatar cada qual sua missão, para que cada um tome sua cruz e siga em frente sem abreviar os caminhos que levam à verdadeira vida.

A lei de Deus é aquilo que observamos em nosso mundo naquilo que não nos é dado manipular, pois não chove sobre os maus e os bons? A doença não atinge ao rico e ao pobre? A morte não chega a todas as pessoas?

Entretanto, não pensemos que Ele quer o mal de seus filhos e suas filhas. Deus não cria as coisas ruins, mas não privilegia a um ou outro. Por isso somos todos iguais, para que estejamos sujeitos à mesma lei de causa e efeito.

Podemos controlar muitas coisas e manipular em nosso favor outras tantas, inclusive as leis humanas, no entanto não esqueçamos que a maior lei, a lei de Deus ninguém manipula e a toma para si.

De que adianta praticar a injustiça por menor que ela seja? Para benefício próprio? Pelo poder?

Não sejamos tolos a ponto de acreditar que é valido acumular algumas coisas nessa vida que não seja amor que quanto mais se acumula, mais se partilha.

Portanto, abramos os olhos da consciência, pois melhor é praticar a justiça do que afastar-se dela e, consequentemente, de Deus.

Assim seja!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

CARTA PELA HUMANIDADE

Amadas e amados! A todas e todos a paz de Jesus, nossa esperança e fonte exemplar de toda misericórdia!

A cada dia, o tempo de mudança é mais urgente e esta mudança já vem ocorrendo desde muitos anos graças à Divina intervenção em nosso plano terrestre. A Palavra já vem sendo semeada pelos séculos desde a Criação. Céus e terras se passaram, mas a Palavra continua no meio de nós, pois o Verbo se fez carne, habitou entre nós e entre nós está vivo.

Resta perguntar quanto tempo ainda vamos esperar para mudar. O tempo que já tivemos já não é o bastante? Tantos anos de história e ainda não enxergamos? Tantos impérios, tantas riquezas, tanto poder. No entanto, tudo se desfez no tempo. Todo orgulho foi consumido pelo tempo e se deteriorou com a carne.

Porque então ainda insistimos naquilo que não nos faz felizes nem a quem está junto de nós. Por quê?

Já é hora de realizar a vontade de Deus, é hora de realizar com plenitude o que o Cristo nos trouxe: o amor.

Que temos a perder amando? Somente aquilo que não nos é valioso para a verdadeira Vida. O Reino de Deus começa aqui, imediatamente. Por isso, é urgente que se viva o amor, pois o tempo já se esgota e não há mais espaço para a maldade. Entretanto, o convite é para pensarmos naquilo que devemos eliminar dentro de nós e não em nossas irmãs e irmãos. Devemos pensar no fim da maldade, do rancor, do orgulho e de tudo o que é mal e está dentro de nós mesmos.

Alimentemos o amor que é o único caminho para a verdadeira vida aqui e nos céus. Oremos constantemente pela evolução do indivíduo e da humanidade na busca da realização do amor divino em nossas vidas. Que assim seja!

VOCÊ NASCERIA AÍ?

FONTE: http://palestrasdemotivacao.blogspot.com/2011/06/precisamos-de-esperanca.html

CARTA PELA ESPERANÇA

Amadas e amados! A paz de Deus e de toda energia cósmica do amor estejam conosco!

Os dias em que vivemos têm sido duros para quem ainda não se acostumou com a maldade. Temos visto muitos atos de violência praticada entre os seres humanos. Seres que deveriam caminhar na luz por terem em si a centelha divina.

No entanto, sabemos que muitas são as influências malignas presentes ao redor do mundo. As energias têm se canalizado de uma forma muito negativa e muito há de conspirações negativas penetrando nas fendas de nossos limites carnais.

Vocês devem estar ouvindo e vendo muitas manifestações que nos fazem pensar que o mundo está virado pelo avesso. Pois se ainda pensamos assim, é porque temos a esperança no bem. O que falta a tantas pessoas nesse mundo é a esperança de que algo melhor pode ser construído por nós e que essa oportunidade de construir o bem é também uma imensa oportunidade de redenção para nossos espíritos falhos.

Vemos barbaridades dentro das famílias, nas ruas, no trabalho, nas igrejas, nas escolas e em todos os cantos do mundo o ódio parece ser a única opção para resolver as situações. Estamos chegando ao mais extremo do absurdo.

Amados e amadas, não se desesperem nem percam a fé em Deus ou em nossos irmãos e irmãs. Não desistam de fazer o bem e resistir ao mal, pois é nesse momento que os esforços terão maior recompensa, porque quanto maior o fardo a ser carregado aqui, mais sólida será a morada no Reino dos Céus. A cada alfinetada que fere e sangra, se resistida, enorme será o conforto. No entanto, não basta fazer esperando trocar um ato de bondade por um terreno no céu. É preciso que tudo seja feito com consciência e com o coração.

Estejamos dispostos a nos entregarmos por nossos irmãos e irmãs, despidos do orgulho, do preconceito e de toda malícia. O que é feito com amor, o amor verdadeiro que Jesus nos mostrou, jamais será nocivo.

Portanto, tenham esperança! Que a esperança alimente a fé e que a fé seja a força para resistir a todas as ofensas, pois nada ficará vazio. Tudo será preenchido de acordo com o que tivermos para preencher.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Espiritualidade Programada

por Lucas Rinaldini




É natural dizer que o ser humano é inconstante, que muda fácil de ideia, que está suscetível a influências do meio e que nunca sabe o que realmente se passa nas profundezas de seu coração. Já dizia Fernando Pessoa “Navegar é preciso. Viver não é preciso” interpretando no sentido de que não há precisão no ato de viver como há no ato de navegar.

Nós, humanos, passamos por várias etapas de nossas vidas. Evoluímos, mudamos nossos sentimentos e pensamentos. Isso é algo que se faz necessário!

No capítulo 13 da primeira carta de Paulo aos Coríntios, no versículo 11, está escrito: “Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Depois que me tornei adulto, deixei o que era próprio de criança.” E na continuidade, o texto ainda trás no versículo 12: “Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido.” É a esperança de evoluir, um passo de cada vez.

Evoluir emocional, intelectual e espiritualmente é um processo natural, ou pelo menos deveria ser, pois algumas convenções da sociedade acabam tornando isso bem mais complicado e, na maioria das vezes, tolhendo alguns aspectos dessas evoluções. Somos levados a cultivar a tristeza até chegarmos às profundezas da solidão e da depressão quando não direcionamos nossas emoções para o ódio e a violência. Parece ser mais fácil aprender a ser triste ou violento a aprender a fortalecer os sentimentos para o bem e o amor.

Intelectualmente, a sociedade tem se preocupado cada vez menos com o conhecimento da vida das pessoas, aquele conhecimento de vida popular, que nossas avós e avôs tinham: a sabedoria de vida.

Além disso, estamos sendo seduzidos por aquilo que não exige o menor esforço de aprendizagem. O trabalho fatigante do dia a dia e o entretenimento banal trazido pela televisão nos fazem desejar cada vez menos exercitar o aprender e nos afasta dos livros e do conhecimento científico.

Junto a tudo isso, deparamo-nos com a ditadura de algumas religiões que impedem as pessoas de evoluírem espiritualmente com suas regras absurdas e dogmas. Na era da tecnologia, em que vivemos cercados de máquinas minuciosamente programadas para obedecerem a ordens, desejamos que a espiritualidade dos seres humanos seja tão controlável quanto os computadores, mas nos esquecemos que mesmo as máquinas nos surpreendem.

O tempo da colonização/invasão do Brasil pelos portugueses é um bom exemplo da tentativa de controle da espiritualidade humana. Milhares de tribos indígenas sofreram com a chegada do Cristianismo imposto pelos colonizadores e tiveram sua espiritualidade violentada para não perder a vida. Será que Jesus, considerado por tantos o Mestre dos Mestres, não seria sábio o suficiente para entender que a espiritualidade tem seus momentos e características próprias de cada ser?

As necessidades das pessoas transcendem as normas impostas com o principal objetivo de conservar o poder das grandes instituições religiosas que pregam e obrigam as pessoas a terem uma espiritualidade programada e, por isso, negam aquilo que pode libertar verdadeiramente os seres humanos: a verdade despida de interesses.

A espiritualidade deve e precisa passar por todos os estágios necessários de evolução, mas limitá-la é abortar a possibilidade de renascimento de um novo ser humano a cada dia.

terça-feira, 10 de maio de 2011

FESTEJANDO A VIOLÊNCIA

Nas últimas semanas, a notícia do assassinato de Osama Bin Laden é a principal manchete em todos os meios de comunicação de que dispõem os homens. Assim como o “11 de setembro” também se tornou notícia por vários meses, após dez anos desse abominável terrorismo, alega-se que a justiça foi feita e a mídia não cessa de noticiar que a ação norte-americana em Abbottabad, no Paquistão, “pôs fim” ao terrorismo. Isso sem mencionar os países que se manifestaram parabenizando a invasão dos EUA. Sim, foi uma invasão!

Especialistas em direito internacional alegam que um país não pode adentrar outro com um grupo de militares, pois isso configura quebra de soberania do país invadido ou ato de guerra. O fato é que deste direito parecem não fazer parte os países do Oriente Médio, que possuem reservas petrolíferas ou que simplesmente não concordam em baixar a cabeça para a política norte- americana.

Claro, a reação violenta a qualquer ato de opressão, jamais é justificada. Gandhi, no movimento de libertação da Índia que se encontrava sob o domínio britânico na década de 1940, condenou de forma veemente qualquer reação violenta contra os opressores alegando que estes também eram seres humanos que possuíam famílias.

O Ataque terrorista às Torres Gêmeas do World Trade Center de Nova Iorque e ao Pentágono em Washington, provocando cerca de 3000 mortes em 11 de setembro de 2001 não deve jamais ser entendido como algo legítimo em face da opressão dos EUA sobre o Oriente Médio, mas não se pode negar que tal ocorrido é consequência dessa opressão. Se Bin Laden é um “demônio”, esse demônio foi criado e treinado pelo próprio serviço secreto dos Estados Unidos na década de 1980 durante a invasão soviética do Afeganistão. Nessa época, o Paquistão era visto pelos EUA como aliado na Ásia.

A política do medo, incutida no mundo todo pelos EUA na década de 1980, era contra a União Soviética e seu socialismo. Até hoje, o povo russo não é visto com simpatia pelo resto do mundo. Hoje, o medo é direcionado para outros alvos: países com reserva pretrolífera. Em defesa dessa política do medo, chamada pelos Estados Unidos de liberdade, os norte-americanos elegem um “inimigo número 1” e, em busca desse inimigo, devastam o país e oprimem milhares de pessoas inocentes para conseguirem seus objetivos.

O atual “triunfo norte-americano” sobre o terror, foi festejado por milhares de estadounidenses. A aprovação do presidente Barack Obama foi às alturas, chegou-se a dizer que era o começo da paz e a tal “mansão” onde Bin Laden foi assassinado tornou-se ponto turístico segundo a manchete da página de notícias do site Terra. Esse tipo de comemoração deveria ser encarado como incrivelmente triste pela humanidade. Finalmente, alcançou-se o ponto máximo da falta de fraternidade: festejar a morte de seres humanos.

Evidentemente, é muito difícil, e até mesmo impossível, para as pessoas que foram vítimas do terrorismo de 11 de setembro, perdoar a pessoa de Osama, pois o perdão não é algo que se pode ser exigido, mas festejar um assassinato, um ato de extrema violência, é uma prova de que existe muito rancor dentro das pessoas. No entanto, deve se pensar se a festa foi em homenagem às vítimas do World Trade Center ou para reerguer o orgulho e a prepotência norte-americanos.

A segurança nos aeroportos foi reforçada. Qualquer pessoa com pacotes, roupas incomuns ou uma barba com mais de quatro dedos de comprimento é considerada suspeita e inevitavelmente revistada. Que tipo de paz está surgindo? Existe paz sob o domínio do medo?

É lamentável , após tantos anos vivendo na Terra, ver que os seres humanos não conseguem enxergar algo tão patente: todas as atitudes e omissões têm uma consequência.

Este acontecimento, não é um sinal do fim da violência, mas seu apogeu, sua coroação como fruto mais amargo de uma humanidade que teima em não aprender.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

HOJE TEM MARMELADA????? ESPERAMOS QUE NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO!!!! E QUE DEUS NOS AJUDE!

ENTRE SANTOS E PALHAÇOS

Quem assiste aos programas de propaganda eleitoral gratuita já pôde ver os inúmeros candidatos e candidatas com os perfis mais exóticos que se pode imaginar. Dentre tantos, destaca-se a forte presença daqueles que estão ligados à religião e outros que se utilizam do que se chama de bom humor.
Começando pelo lado religioso, há uma infinidade de pastores, padres e simpatizantes de algum tipo de religião que terminam ou iniciam suas falas, na maioria das vezes com o tempo bem curto, com frases do tipo “sou cristão”, “glória a Deus”, “com o fogo do Espírito Santo” e tantas outras fórmulas de invocações do transcendente.
Mas o que seria de fato uma união entre fé e política? Seria rezar para que Deus ajude seu povo? Seria esperar pela ajuda dos céus ou algo sobrenatural? Seria terminar de mencionar uma proposta no horário eleitoral e erguer as mãos para o céu?
O caso é que o contexto atual do Brasil faz com que as pessoas recorram cada vez mais a fé em Deus, santos, santas, pastores, enfim, todos estão à espera de um milagre! Mas isso não pode ser esperado de promessas baseadas em louvores ou bênçãos. Há quem diga ainda que fé não se mistura com política, o que é uma visão equivocada do ponto de vista de uma teologia mais engajada socialmente. Para o teólogo Leonardo Boff, A fé não é um "ato" ao lado de outros. Mas é uma "atitude" que engloba todos os atos, toda a pessoa, o sentimento, a inteligência, a vontade e as opções de vida. Neste sentido, a fé engloba também a política com P maiúsculo (política social) e com p minúsculo (política partidária). A fé não fica apenas como experiência pessoal de encontro com Deus. Ela se traduz concretamente na vida.
A fé, na verdade, deve motivar as pessoas a darem prioridade a propostas que envolvam não apenas a invocação do sobrenatural, mas principalmente que priorizem o social. De fato, esperar que Deus dê um jeito no país é ficar de braços cruzados e permitir que, cada vez mais, a política se torne um palco.
Sendo um palco, é possível constatar nas propagandas eleitorais uma verdadeira invasão de atores, atrizes, comediantes e afins. Muitos sequer sabem que funções serão exercidas no cargo público pretendido. O mais preocupante é que esses cadidatos e candidatas são os que mais possuem votos! O que leva as pessoas a essa preferência?
Ao que parece, não é ignorância do povo como muitos pensam. É sabedoria! É protesto que deve alertar a todos! Por trás desse protesto disfarçado, está a indignação e  a desilusão do povo brasileiro. Tantos anos sendo massacrado, por políticos que usaram de má fé, suscitaram essa reação nas pessoas: um protesto desesperado, um recado para os candidatos.
Ainda conforme o cientista político Rubens Figueiredo, "No Brasil o partido é muito fraco. O partido não está preocupado com a imagem, está preocupado em eleger deputados" e nessa corrida para ocupar as cadeiras das Câmaras e do Senado, vale tudo. Até mesmo apelar para o humor e deixar de lado a seriedade que necessita a situação do povo brasileiro.
Além disso, é preciso olhar bem, não só para as piadas explícitas e o show dos candidatos exóticos, mas também para os incríveis malabarismos que muitos outros candidatos, eleitos há muito tempo, fazem às vesperas das eleições para construir e promover aquilo que já deveria estar pronto desde quando o povo já necessitava.
Enfim, nada contra os santos e muito menos contra os palhaços. Ambos amenizam as dores do povo. No entanto, entre os santos e palhaços da política, que prevaleça a necessidade das pessoas, que o protesto seja ouvido e entendido e que providências sejam tomadas.

Lucas Rinaldini
Estudante de História e Professor de Ensino Religioso

sábado, 25 de setembro de 2010

INIMIGOS - OBRAS DE GIL VICENTE

Eu não serei hipócrita. Quando vi essas obras de Gil Vicente, identifiquei-me com o que elas nos mostram. Não quero ser violento, procuro a paz, mas não posso negar que me senti "confortável" e ao mesmo tempo chocado com imagens tão fortes. Há também um pouco de alívio, como se disséssemos: "Isso! É isso! Até que enfim alguém nos ouviu!" Uma mistura de sentimentos que acredito estar presente em grande parte das pessoas. É incrível como Gil conseguiu captar esses sentimentos que estão presentes nas pessoas, insisto nessa ideia porque para mim é pouco crível que muitos não desejem fazer o mesmo. É como se quiséssemos que os "inimigos" sentissem aquilo que fizeram tantas pessoas sofrerem. 
Entretanto, quero deixar bem claro que está longe de mim apoiar a execução de tais fatos retratados, pois, apesar de tudo, prefiro a paz e o jeito bom de resolver as coisas...

Fonte das imagens: http://bstumpf.wordpress.com/2010/09/18/matem-gil-vicente/ acesso em 25/09/2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O GRITO DE RESISTÊNCIA DAS MULHERES

Eu me pergunto, porque nossa cultura e, principalmente, nossa amada Igreja maltrata tanto nossas mulheres? Não foi do ventre de uma mulher que veio o salvador? Não foi do ventre de uma mulher que veio toda hierarquia da Igreja Católica? Porque tantos NÃOS!!! às mulheres?
Segue abaixo o texto das CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR em resposta à cartilha medonha e retrógrada produzida pela CNBB.

Católicas pelo Direito de Decidir em Defesa da Vida

(em resposta ao texto "Apelo a todos os Brasileiros e Brasileiras"

sobre como votar nas eleições 2010)



No final de agosto último, a Comissão em Defesa da Vida do Regional Sul 1, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, elaborou um texto com o propósito de orientar seus e suas fiéis sobre como votar bem nas próximas eleições. A Presidência e a Comissão Representativa dos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB, por sua vez, divulgaram nota em que afirmam acolher e recomendar a divulgação dessas orientações.
Católicas pelo Direito de Decidir, após tomar conhecimento do teor desses documentos, vem a público manifestar seu estranhamento e repúdio às afirmações falaciosas presentes no referido texto, o que de forma nenhuma condiz com o que esperamos de líderes religiosos que deveriam ser exemplo de ética e correção, especialmente ao assumir tarefa que não é própria do âmbito religioso, ou seja, interferir nas eleições, dirigindo-se inclusive a não católicos/as.
Como católicas, estranhamos que Igreja católica no Brasil, que há 30 anos orientou cristãos e cristãs a participarem da política sem assumir posições partidárias, venha agora a público fazer uma campanha tão declaradamente contrária à candidata do atual governo, distorcendo informações e faltando com a verdade. Se não, vejamos:
1. Não é verdade que o projeto apresentado pela Comissão Tripartite em 2005 propunha a descriminalização do aborto até o nono mês de gravidez. Cópia fiel do texto do projeto começa com a seguinte frase: "O Congresso Nacional decreta: Art. 1º - É livre a interrupção da gravidez, até a décima segunda semana de gestação, nos termos desta lei." No texto "Apelo a todos os Brasileiros e Brasileiras", portanto, há uma evidente distorção dos fatos, haja vista que existe uma regulamentação explícita no Projeto de Lei 1135/91 (e que é detalhada nos artigos seguintes) que não permitiria a interrupção de gravidez a qualquer momento da gestação. Para mais informações, veja em: Comissão de Seguridade Social e Família - Substituto da relatora ao projeto de lei n.1135, de 1991.
2. Não é verdade que o plano de governo do segundo e atual mandato do Presidente da República, de setembro de 2006, reafirme o compromisso de legalizar o aborto. Reiterada e publicamente o presidente vem afirmando que o aborto é uma questão de saúde pública e deve ser discutido no Congresso Nacional.
3. Ao afirmar a suposta existência de um Imperialismo demográfico que está implantando o controle demográfico mundial como moderna estratégia do capitalismo internacional, o texto da comissão da CNBB utiliza um argumento antigo, falso e inconsistente, sobretudo em tempos em que esse controle significaria uma estratégia obsoleta e desnecessária, pois é sabido que há tempos o Brasil é um país cuja população envelhece mais do que cresce. Além disso, o que ganharia o capitalismo em produzir menos consumidores? E o que o texto ganha, em termos pastorais, ao insinuar uma espécie de teoria da conspiração absolutamente fantasiosa?
4. Perguntamo-nos ainda por que os nossos eminentes Bispos silenciam princípios doutrinais católicos que legitimam o direito de uma mulher optar pelo aborto, como o recurso à própria consciência e a escolha do mal menor? Seria por um autoritarismo misógino? Ou seria por "mero" abuso de poder?

Como católicas comprometidas com a defesa da vida e da dignidade das mulheres, repudiamos a irresponsabilidade de integrantes da hierarquia católica que vêm insistentemente a publico para condenar o aborto - reforçando o estigma e o sofrimento de milhares de pessoas -, mas silenciam em conivência com as múltiplas formas de violência que as mulheres sofrem cotidianamente no Brasil apenas por serem mulheres. Lembramos que casos como os assassinatos de Eliza Samúdio e Mércia Nakashima não são exceção, mas regra corrente em nosso país misógino e machista.
Como católicas comprometidas com a justiça social, lamentamos profundamente que a CNBB não faça notas públicas para orientar a população católica a votar em candidatos reconhecidamente favoráveis às lutas sociais, à erradicação da miséria e da violência e à implementação de políticas públicas no Brasil que resolvam a injusta distribuição de renda de nosso país.
A Igreja católica na qual fomos formadas foi, em tempos de ditadura militar, no Brasil a voz daqueles que não têm voz, mas hoje cala-se vergonhosamente frente aos problemas mais graves do país, insistindo apenas na condenação dos direitos humanos das mulheres e de pessoas homossexuais, bissexuais, de travestis e transexuais. É sabido, entretanto, que há inúmeros/as católicos/as que, à revelia das posições oficiais da CNBB, continuam dando sua vida em prol daqueles que sofrem discriminações de todo o tipo. Parte significativa de padres, freiras e leigos/as não expressam sua discordância da oficialidade católica, porque temem ser punidos com expulsão das pastorais e das dioceses, imposição do silêncio e até mesmo afastados do serviço sacerdotal. Para nós, no entanto, são essas as pessoas que mantém vivo o espírito do evangelho!
A oficialidade católica necessita ouvir essas vozes e trabalhar por uma igreja coerente com os valores cristãos, com menos escândalos sexuais e voltada para aqueles/as que mais sofrem. Não é tarefa da Igreja assumir posições partidárias no processo político eleitoral, muito menos atentar contra a laicidade do Estado.
Como Católicas pelo Direito de Decidir, somos favoráveis à democracia, não queremos que o Estado se deixe pressionar por interferências indevidas de setores religiosos fundamentalistas. Defendemos o respeito merecido por todo/a o cidadão/ã brasileiro/a na hora de votar.
Como Católicas pelo Direito de Decidir, queremos fazer pública uma das vozes dissonantes dos diversos movimentos católicos que não concordam com o autoritarismo da hierarquia eclesiástica. Manifestamos nossa imparcialidade no processo eleitoral, repudiando o uso político das religiões para alcançar votos, bem como o uso que a oficialidade católica vem fazendo da política para impor questões supostamente doutrinais.


CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR

São Paulo, 10 de setembro de 2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

NESSE, EU POSSO CONFIAR...

Em toda caminhada existem aqueles e aquelas que desistem por desânimo, falta de fé e muitos outros motivos. Conheço Fernando há bastante tempo para saber que é comprometido com os compromissos que assume e que tem uma característica fundamental para quem quer fazer mudanças para melhor: a ESPERANÇA!
Por isso, confio meu voto para FERNANDO ESCODEIRO!

ÚLTIMOS DIAS DE JESUS

Semana Santa: a última semana da vida de Jesus

Áurea Esteves Serra*
Lucas Rinaldini*


A Semana Santa é a história do confronto do reino de Deus com o reino de César. O confronto entre esses dois reinos intensificam-se durante a última semana da vida de Jesus.
Para entendermos essa situação de confronto se faz necessário conhecer um pouco mais sobre a cidade de Jerusalém. Para Borg e Crossan (2007) Jerusalém “é a cidade de Deus e a cidade sem fé, a cidade da esperança e a cidade da opressão, a cidade da alegria e a cidade da dor” (p. 19). Por que será que Jerusalém é conhecida por esses princípios antagônicos?
Foi por volta do ano 1.000 a.C sob o reino de Davi que Jerusalém tornou a capital de Israel e de acordo com Borg e Crossan (2007) o centro da geografia sagrada do povo judeu. O templo foi construído por volta de 900 a.C pelo filho de Davi, Salomão. Vale lembrar que a Judéia, e sua capital Jerusalém foi governada por vários impérios estrangeiros e somente a partir do ano de 63 a.C ela estará sob o controle de Roma.
Apresentando um pouco de história a partir da “Teologia da Corte de Davi” lembremos que Davi governou de 1010 a 970 a.C e seus dominios eram: Norte = Israel, Sul = Judá e Jerusalém = cidade de Davi. Já com seu filho Salomão que governa de 970 a 93 a.C, o Norte, o Sul, Jerusalém e outros reinos estão todos sob seu governo. Vale lembrar ainda que a família de Davi (a dinástia) fica com a arca da aliança e Davi a leva de Siló para Jerusalém. Talvez seja esse o motivo que segundo Borg e Crossan (2007), Jerusalém é o “‘umbigo da terra’”, ligando este mundo a sua origem em Deus, confira Ez 5,5!. Aqui (somente aqui) ficava o local de moradia de Deus na terra (...), estar no templo era estar na presença de Deus” (p.20). Para Gallazzi (2002), somente os sumos sacerdotes podiam se aproximar desse lugar santo, lugar da presença de Deus. Ainda para este autor “este fato garante a concentração do poder do controle ideológico na mão do templo e do sacerdote” (p.204).
Jerusalém torna-se esplêndida no governo de Herodes , o Grande na qual, este rei dos judeus reconstrói o Templo, constrói palácios, fontes, portos etc. Para Gass (2007):

Se o templo era o núcleo central do Judaísmo, convém lembrar que, por extensão, a cidade de Jerusalém era o centro político e espiritual do povo judeu. No tempo de Jesus, tinha em torno de 50 mil habitantes. Mais de um terço deles dependia diretamente das atividades normais do templo e das obras de ampliação.

Jerusalém se torna um lugar de grandes peregrinações para festas que tiveram sua origem no Êxodo (Ex 23, 14-19) e Jesus, provavelmente participou de algumas delas. Veja em Lc 2, 41-50; 22, 7-18; Jo 2, 13-25; 11,55ss.
Os romanos tinham conhecimento de que os judeus esperavam por um Messias, por isso, quando algumas dessas festas se aproximavam, em especial a Páscoa, o procurador romano deixava sua residência para comandar diretamente para comandar as legiões.
Não é à toa que Marcos colocou a entrada triunfal de Jesus no domingo de Ramos (Mc 11, 1-11). Tal fato serve de oposição à entrada do poder do Império em Jerusalém. Conforme Borg e Crossan (2007), duas procissões estavam acontecendo naquela ocasião, “Uma foi uma procissão de camponeses, a outra um desfile imperial”. Ou seja, Marcos coloca Jesus como aquele que traz um reino diferente, o Reino de Deus.
No dia seguinte, a segunda-feira, acontece o episódio da figueira intercalado com o episódio do Templo (Mc, 11, 12-21) que termina no início da terça-feira. Será que Jesus foi tão petulante e até abusou de seus “poderes” nessa situação? Seria esse o Jesus libertador, o messias que se esperava? Pouco provável.
É preciso entender tanto o incidente da figueira quanto o do Templo mutuamente. Depois da figueira, Marcos coloca o trecho em que Jesus chega ao templo e explusa os vendedores e compradores que ali se encontram (Mc 11, 15). Jesus era judeu e é muito provável que tinha apreço pelo Templo, mas não da forma como estava sendo administrado. De fato, aquele lugar havia se tornado uma casa de comércio. O que uma pessoa busca em uma igreja ou templo? Um contato mais próximo com Deus, com as pessoas, uma orientação, algo que possa saciá-la de alguma forma. Não estaria essa pessoa em busca de algum fruto? Nos dois casos, o problema era a falta do fruto que Jesus buscava (Borg e Crossan 2007). Em outras palavras, Jesus não aceita um templo que não produza frutos, esse templo deve ser destruído.
Na terça-feira, dentre vários acontecimentos, destaca-se aqui o momento em que sumo sacerdotes, escribas e anciãos questionam a autioridade de Jesus (Mc 11, 27-33). Os doutores da Lei querem encontrar uma maneira de fazer com que Jesus se incrimine por suas próprias palavras, no entanto, são surpreendidos com outro questionamento feito por Jesus que não fica numa atitude passiva. É inadequado, quando se estuda o Jesus Histórico, afirmar que Jesus foi passivo. Ele não usou de violência para com as pessoas, mas usava sua inteligência e conhecimento da Lei para colocar os doutores em situações constrangedoras. A violência está na reação dos sumo sacerdotes, escribas e anciãos que, com seu orgulho ferido, planejam matar a Jesus.
Ainda na terça-feira, há outro incidente. Alguns herodianos vão questionar Jesus se é lícito pagar imposto a César (Mc 12, 13-17). Está muito claro que tentam fazer com que Jesus caia numa armadilha. Se ele disser “não”, pode ser acusado de subversivo e ser preso imediatamente. Se disser “sim”, estará legitimando a exploração romana sobre o povo judeu. O que fazer então? A primeira atitude de Jesus é perguntar se eles tinham um denário, que é uma moeda romana. E as autoridades judaicas o tem! Um judeu não carrega moedas com imagens, é idolatria! Nas palavras de Borg e Crossan (2007):

A estratégia de Jesus leva seus interrogadores a revelar à multidão que eles têm uma moeda com a imagem de César. Neste momento, eles ficam desacreditados. Por quê? Na pátria judaica do primeiro século, havia dois tipos de moedas. Um tipo, devido à proibição dos judeus de ter imagens gravadas, não possuía imagens humanas ou de animais. O segundo tipo (inclusive as moedas romanas) tinha imagens. Muitos judeus não carregavam nem usavam moedas desse segundo tipo. Mas os interrogadores de Jesus na história as carregavam. A moeda que eles apresentaram tinha a imagem de César junto com o estandarte e a inscrição idólatra que chamava César de divino e Filho de Deus. Eles São revelados como integrantes da política de colaboração.

Seria o mesmo que qualquer líder religioso hoje criticasse as atitudes dos Estados Unidos, mas usufruísse do dólar. É o mesmo que criticar a televisão e nao perder um capítulo da novela.
Jesus mostra quem realmente está a favor da exploração. São as próprias lideranças judaicas que carregam a moeda do império. Isso é ponto chave para se entender o que se segue. Jesus continua com o seguinte dito: “O que é de César, dai a César: o que é de Deus, a Deus”. (Mc 12, 17). Diante do contexto histórico, é equivocado afirmar que Jesus justifica o pagamento de impostos absurdos. O império romano invadiu e tributou as terras e toda a produção do povo da palestina. Daí vem a pergunta: o que é de Deus? A terra e o que ela produz é de Deus! O povo é de Deus! A Deus, o que é de Deus! Não pertence a César. Indiretamente, Jesus afirma que o império é invasor e injusto e não concorda com essa prática! Mas não faz isso de maneiro explícita, primeiro ele mostra quem são realmente os colaboradores do império explorador.
Na quarta-feira, Jesus está na casa de Simão, o leproso (Mc 14, 1-11). Entra uma mulher que lhe unge a cabeça com um perfume caríssimo. Ela é criticada pelos que ali estão, pois o dinheiro gasto com o perfume poderia ser usado para os pobres, mas Jesus a defende a mulher, pois a prática de dar esmola, ou comprar comida, ou qualquer outra coisa para os pobres não devolve a eles dignidade e não é partilha. Basta conferir o que está escrito em Dt 15, 11: “Nunca deixará de haver pobres na terra; é por isso que te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão. Do teu humilde e do teu pobre em tua terra”. Jesus propõe a partilha e não a esmola.
A atitude da mulher simboliza que ela reconhece que Jesus é o Messias que será assassinado pelo poder opressor. O próprio Jesus diz: “Ela fez o que podia: antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura.” (Mc 14, 8). É possível estabelecer um contraponto com o conceito de Messias que Pedro tem. Confira em Mt 16, 21-23. Os discípulos têm dificuldade em entender que a missão de Jesus exige dedicação total, mesmo que para isso, seja necessário se arriscar em busca do seu objetivo.
Chega a quinta-feira que para os católicos é o dia da instituição da Eucaristia (Mc 14, 22-25). Nesse dia Jesus come a ceia com seus discípulos e suas discípulas pouco antes de se dirigir parao Getsêmani onde seu sofrimento se acentua. Na ceia, deve-se observar que Jesus, mesmo estando prestes a ser preso, sabendo do perigo que corria, transforma esses sentimentos em amor e quer partilhar com seus amigos e amigas. Esse seria talvez o grande mistério da Eucaristia. Longe de significados mágicos, a Eucaristia é o maior e mais desafiador milagre humano: transformar o medo em amor! Lembrar-se de que Jesus teve um projeto a favor dos fracos, dos pobres, dos doentes, de todos(as) injustiçados(as) e que, fazendo memória de sua ceia, até hoje, todos cristãos e todas as cristãs são convidados(as) a transformar seus medos, angústias e dificuldades em força para enfrentar as dificuldades.
No Getsêmani (Mc 14, 32-42), é interessante enfatizar como Jesus está sofrendo. Ele tem consciência de que sua prática suscitará o ódio dos adversários e que, por isso, ele corre sério risco de morrer. Por isso, chega a pedir ao Pai que afaste esse cálice (Mc 14, 36). Ao contrário de que muitos pensam, Jesus não veio para morrer, não está no projeto de Deus a morte de um inocente, mas sim a vida digna a todas as pessoas. Acontece que para o império opressor, o Reino de Deus não é bem-vindo! A morte de Jesus é culpa da ganância e dureza de coração dos seres humanos que promovem o acúmulo de riquezas e isso acontece até hoje!
Sexta-feira é o dia da crucificação de Jesus (Mc 15, 34-41). A situação é desesperadora. O Messias servo sofre as consequências de sua vida comprometida com o Reino de Deus. Um pobre camponês, que amava a justiça estava agora só. Abandonado por seus amigos, sente-se também abandonado por Deus. Pouco antes de morrer, lamenta: “Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste? (Mc 15, 34). Jesus morre rezando o Salmo 22. É interessante ler todo o esse salmo para se ter uma ideia do sofrimento de Jesus nessa hora e que, mesmo assim, ele louva a Deus e não deixa de acreditar.
Marcos menciona sobre as cortinas do templo que se rasgam (Mc 15, 37). O Santuário era considerado o lugar do Templo onde Deus estava realmente presente e somente o sumo sacerdote poderia ali entrar apenas um dia no ano. Para Borg e Crossan (2007), esse momento tem um duplo significado:

Por um lado, era um julagamento do templo e das autoridades locais, que colaboraram com a Roma imperial para condenar Jesus à morte. Por outro lado era uma afirmação: dizer que a cortina, o véu, tinha sido rasgada era afirmar que a execução de Jesus significava que, a partir daquele momento, o acesso à presença de Deus estava livre. Essa afirmação enfatizava a apresentação de Jesus feita por Marcos anteriormente, no evangelho: Jesus mediava o acesso a Deus independentemente do templo e do sistema de dominação que este passara a representar no século I.

Em seguida, encontra-se na boca de um centurião a declaração de que Jesus, de fato, é o Filho de Deus (Mc 15, 39). O que isso quer dizer? Quer dizer que o centurião romano, que reconhecia apenas o imperador como filho de Deus, agora confirma que Jesus era a própria vontade de Deus encarnada num ser humano. O verdadeiro Reino de Deus não é aquele que se impõem pela violência, mas aquele que resiste até o fim, dando um grande grito que ecoa no mais profundo do ser humano. É um grito que transcende e diz mais do que quaisquer palavras.
Sobre o sábado, pouco contam os evangelhos. Marcos já passa para a madrugada de domingo. Mateus é quem relata uma conspiração entre os sacerdotes e os fariseus e Pilatos baseada nos rumores de uma ressurreição (Mt 27, 62-66). O projeto de Deus é a vida, em oposição ao projeto do império que é a morte. Aqueles que são contra o projeto de Deus tentam a todo custo, e sem sucesso, impedir a resposta de Deus ao coração de pedra dos homens.
Esse silêncio que se percebe nos evangelhos, em relação à figura de Jesus, no sábado, pôde ser sentido, e é sentido até hoje, na tradição católica. Pouco ou nada se fala de Jesus no dia de sábado. Para os romanos reunidos naquele momento, era apenas mais um agitador que havia recebido sua punição por contradizer o império. Jamais poderiam imaginar que ali, daquela cruz, surgiria uma luz gloriosa para todos os séculos.
O domingo é hoje considerado o Dia do Senhor. Foi no domingo que Deus terminou sua criação e viu que tudo que havia feito era muito bom (Gn 1, 31-2, 1). Tudo que Deus havia feito era bom! Mas com o passar do tempo, muitas coisas foram acontecendo e o Projeto de Deus foi desviado, a Bíblia conta boa parte da trajetória desse povo, com sua luta para retomar o princípio do projeto da criação. Por isso, domingo também é dia da ressurreição! (Mc 16, 1-8) Ao ressuscitar Jesus, Deus recria seu projeto. Não é por acaso que a ressurreição é colcocada num domingo. É a justificação da vida de Jesus. É quando Deus diz que as palavras e ações de Jesus são o caminho para o seu projeto desde o início da humanidade e que deve ser levado adiante pelas comunidades após a morte de Jesus. A vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus restaura o Projeto inicial de Deus.
Existem, é claro, muitos outros fatos que se passaram nos dias que marcaram a última semana de Jesus, no entanto, não compete aqui comentar tudo e fazer um estudo aprofundado. O que se tem aqui é uma breve relfexão sobre esses últimos dias de um homem que viveu profundamente a vontade de Deus e conseguiu transformar um símbolo de morte, a cruz, num símbolo de esperança e libertação. A cruz que antes era martírio, agora, com os cristãos passou a ser um sinal de luz e Boa Nova. Cabe a todos e todas que assumiram o compromisso de serem cristãos e cristãs a usarem a cruz para promover a vida e a ressurreição!



REFERÊNCIA
BAZAGLIA, P (dir). BÍBLIA de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. 2206p. ISBN 85-349-1977-1.
BORG, Marcus J.; CROSSAN, John Dominic. A última semana: um relato detalhado dos dias finais de Jesus. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
GALLAZZI, Sandro. A teocracia sadocita: sua história e ideologia. Macapá: Sandro S. Gallazzi, 2002. (Biblioteca de Estudos Bíblicos).
GASS, Ildo Bohn. Uma introdução à Bíblia: período grego e vida de Jesus – Primeiro Testamento. 2ª ed. São Paulo: Paulus; São Leopoldo, RS: Con-texto, 2007. vol. n. 6. (A serviço da leitura libertadora da Bíblia).