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Birigüi, São Paulo, Brazil
Tenho 30 anos, sou graduado em Letras pela Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB),graduado em História pela Universidade Toledo de Araçatuba e pós-graduado em Assessoria Bíblica pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, Rio Grande do Sul (EST)em parceria com o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI). Atualmente professor da educação básica de escolas estaduais de SP e cursando o pós-graduação em História Cultural pelo Centro Universitário Claretiano.

domingo, 7 de dezembro de 2008

CONTO

Perpétua sossego ou Sossego perpétua

Desde pequeno ele gostava de ir até o cemitério. Chegava lá, ia para a estradinha que beirava o muro, encostava sua bicicleta e ficava sentado à sombra de uma árvore. Isso o fazia lembrar das manhãs de domingo quando sua avó vinha colocar flores e acender velas para seu avô.
O que o fascinava era a calma do cemitério vazio naquelas manhãs. Uma calma com gosto de respeito experimentada pelas árvores e pássaros.
Com seus dezessete anos, retornava a esse lugar onde conheceu o significado da paz dos mortos. Era bom fugir das gritarias caseiras e contemplar o silêncio que os túmulos emanavam. Uma cidade, pensava ele, uma cidade quieta onde mora o sossego juntamente com a natureza.
Aos vinte e alguma coisa, ele tenta retornar ao seu lugar de infância, há muito já sem a companhia da avó que já morava por ali nos últimos quinze anos, mas que agora não acendia mais velas e nem colocava flores, apenas recebia tais homenagens.
O silêncio era interrompido pelo barulho de vozes que vinham do outro lado do muro do cemitério onde ele sempre se encostara. Vozes e carros não deixavam que aquele cantinho à sombra da árvore, já menos frondosa, continuasse a ser agradável. O bom pasto que ficava ali atrás dera lugar a uma rua com casas em suas bordas. Hora de procurar outro lugar, sair, correr, pedalar e encontrar o vazio, o silêncio, o sossego que havia mudado.
Tentou, então, passar pela rua onde morava quando criança. Ela já era asfaltada na época e os jogos de futebol com os amigos sempre deixavam alguns dedões destampados e sangrando. Isso agora parecia prazeroso, mas os amigos cresceram e a bola murchou e se perdeu. A rua também já possuía muitas casas em suas bordas e o sossego que brincava ali nas tardes da semana deixara de viver aquela gostosa rotina.
Fugindo, pensou ele ser melhor procurar por um novo lugar. Mas o novo lugar não tem significado! Não significa! O que não se vive, não marca e mais uma vez ele viu que o sossego não estava ali também.
Ele, procurando por onde já tinha vivido, nada encontrou além de lugares sobre o seu lugar, sepultando o sossego. É isso! O sossego morreu e por isso não se encontra. Decidiu então terminar a procura e se fazer sossego, transformar-se. Fez seu ritual, aos tantos anos, deitou, juntou os pés, cruzou as mãos sobre o peito, fechou os olhos e sossegou.

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