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Birigüi, São Paulo, Brazil
Tenho 30 anos, sou graduado em Letras pela Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB),graduado em História pela Universidade Toledo de Araçatuba e pós-graduado em Assessoria Bíblica pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, Rio Grande do Sul (EST)em parceria com o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI). Atualmente professor da educação básica de escolas estaduais de SP e cursando o pós-graduação em História Cultural pelo Centro Universitário Claretiano.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Idade Média: navegando pela transição

De certa forma, é muito fácil encontrar nos livros didáticos o pensamento de que a história é dividida em blocos temporais nos quais cada período tem seu tempo certo para começar e terminar de maneira tão brusca como se a mentalidade dos povos estivesse sujeita a um clique ou simplesmente à facilidade de se virar uma página rumo ao próximo momento histórico. Até mesmo utilizar a palavra “momento” pode dar a ideia de que a história é fragmentada e não um todo semelhante a uma colcha de retalhos em que os períodos que se apresentam estão costurados e remendados com tiras do passado enquanto permitem que a agulha do tempo venha coser sua continuidade.
Para combater tal pensamento, basta se considerar que a história é construída por homens e mulheres, ou seja, se faz pela ação do ser humano que compõe sociedades. Estas vão se organizando e sedimentando suas bases a partir de contratos sociais os quais se edificam nas relações que ocorrem dentro delas.
Dentro de todo esse processo, criam-se mentalidades motivadas pelas condições a que estão sujeitos os indivíduos que compõem tal sociedade. A mentalidade construída durante o caminhar das sociedades se arrasta por séculos e, por isso, é considerada de longa duração.
Difícil é mencionar o conceito de mentalidade sem remeter a Jacques Le Goff de quem Baschet (2006) se utiliza para escrever sobre a longa Idade Média. Esse período de transição é o que pode ser usado como um exemplo da longa duração da mentalidade que paira do século IV ao século XVIII, na Europa, e traz consigo continuidades à medida que o tempo passa. Segundo Baschet (2006):

A longa Idade Média, em seu conjunto, é um período de profundas transformações quantitativas e qualitativas e, quanto a esse aspecto, não há mais diferenças entre os séculos XVI e XVII e os séculos XI a XIII do que entre estes e a Alta Idade Média. Se todas essas evoluções são capitais, o conceito de longa Idade Média convida a prestar atenção à unidade é à coerência desse período de quase quinze séculos. As continuidades são múltiplas, dos ritos da realeza sagrada ao esquema das três ordens da sociedade, dos fundamentos técnicos da produção material ao papel central exercido pela Igreja. Sobretudo, uma análise global leva a concluir que os quadros dominantes da organização social não são questionados de modo que as mesmas “estruturas fundamentais persistem na sociedade européia do século IV ao século XIX”

O caminho rumo à racionalização não foi isento de influências medievais nem esta esteve totalmente livre das fagulhas do Renascimento. Exemplo disso são as explorações marítimas que Portugal iniciou já no século XIV com o périplo africano. Mais tarde, outro nome de destaque seria lembrado na história também por meio da expansão marítima. Cristóvão Colombo, em sua empresa rumo ao descobrimento de um “novo mundo”, não teve como principal objetivo questionar o formato da terra, mas sim a descoberta de uma terra que seria o paraíso. Sua mentalidade tinha as raízes na Idade Média e sua motivação é o imaginário medieval basicamente religioso. Esse mosaico de sentimentos empreendedores misturados a uma mentalidade medieval faz de Colombo um homem híbrido.
Mas as navegações, apesar de terem seus líderes motivados pela mentalidade medieval, não deixaram de ser extremamente importantes para que a Europa fosse rompendo com o imaginário medieval. Prova disso é o que Silva (1987) afirma sobre as experiências que essas viagens permitiram acumular, pois, à medida que as navegações avançavam em suas expedições mais se agregava ao conhecimento matemático e geométrico, estes, por sua vez, contribuíam no desenvolvimento do pensamento racional. Ao mesmo tempo, as mercadorias trazidas estimulavam não só relatos maravilhosos das riquezas, mas também favoreciam imensamente o enriquecimento dos mercadores. Conforme Le Goff (1982) afirma, “de modo muy especial, es el transporte marítimo el medio por excelencia del comercio internacional medieval, el que hará la riqueza de esos grandes mercatores”.
Tal afirmação pode ser entendida como o embrião de uma mentalidade que mais tarde romperá com o mundo medieval, pois esses comerciantes começarão a investir no Renascimento, mesmo ainda tendo ligações com a Igreja. Segundo Le Goff:

Unos favorecerán el Renacimiento intelectual que satisfaciendo las necesidades de sus fuertes personalidades, les permitirá ser humanistas sin salir de una Iglesia a la cual les liga tanto una piedad que sigue siendo medieval como el sentido de su próprio interés, porque la Iglesia, puede ser y es a menudo un aliado social poderoso.

Com essas asserções, conclui-se que a transição da Idade Média para a Idade Moderna ocorre de maneira lenta e é permeada pelas mentalidades medievais, sendo estas fundamentais para esse processo. Observa-se aqui também que, com as navegações, houve um avanço no desenvolvimento da racionalidade, o que contribuiu com a transição apesar da forte presença do imaginário medieval.

Lucas Rinaldini


Referências bibliográficas

BASCHET, J. A CIVILIZAÇÃO FEUDAL. São Paulo. Global, 2006.
LE GOFF, J. MERCADERES Y BANQUEROS DE LA EDAD MEDIA. Buenos Aires. EUDEBA, 1982.
SILVA, J. T. DESCOBRIMENTOS E COLONIZAÇÃO. São Paulo. Ática, 1987.

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