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Birigüi, São Paulo, Brazil
Tenho 30 anos, sou graduado em Letras pela Faculdade de Ciências e Tecnologia de Birigui (FATEB),graduado em História pela Universidade Toledo de Araçatuba e pós-graduado em Assessoria Bíblica pela Escola Superior de Teologia de São Leopoldo, Rio Grande do Sul (EST)em parceria com o Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI). Atualmente professor da educação básica de escolas estaduais de SP e cursando o pós-graduação em História Cultural pelo Centro Universitário Claretiano.

domingo, 1 de abril de 2012

“DEVOLVAM A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR”

Há algumas semanas, o secretário geral da ONU para a Rio +20, Sha Zukang, declarou que “Se países como Brasil, China e Índia resolverem copiar o estilo de vida dos países ricos, a conta não fecha. Seriam necessários cinco planetas Terra para atender a tamanha demanda.” *
Fonte: http://eduardopereiradeazevedo.blogspot.com.br/2011/06/imagens-para-o-trabalho-do-9-ano.html acesso em 01/04/2012.

De fato, se países como o Brasil, China e Índia resolverem reclamar os mesmos direitos que países como Estados Unidos e alguns da Europa, o planeta não vai conseguir sustentar tantas pessoas. Como encontrar outro planeta Terra é uma missão bem complicada (que dirá 5!), talvez seria o momento dos ricos pensarem um pouco em tudo aquilo que acumulam e desperdiçam. Afinal, para nós cristãos e todos os crentes em Deus, é difícil imaginar que nosso Pai soberanamente bondoso e perfeito teria planejado mal a construção de sua obra. Teria Ele se equivocado quanto à necessidade de suas filhas e filhos quando arquitetou nosso mundo?

Provavelmente não. E também para Deus não é surpresa que um dia suas criaturas humanas chegariam ao extremo de seu egoísmo a ponto de precisarem de mais planetas para satisfazer sua ambição. Mesmo que existissem dez planetas Terra, com o tempo, aconteceria a mesma coisa. A saída, então, é olharmos para dentro de nós mesmos e de nossa sociedade e observar tudo que deve ser mudado, transformado para que todas as pessoas vivam bem nesta única Terra.

Entretanto, essa transformação não é nada fácil. Não é necessário ir muito longe para ver como a crueldade humana, alimentada pelo egoísmo, ainda predomina.

No final de fevereiro desse ano, aconteceu a tragédia de Pinheirinho. Para muitos, qualificar tal acontecimento como tragédia é um exagero, isso por que não estão na pele daquelas e daqueles que perderam sua moradia. Outros mais ainda afirmam que essas pessoas sequer deveriam estar ali, que são invasores, marginais, traficantes, vagabundos e que a ação da polícia, que está a serviço do estado, foi correta.

Os problemas já começam por aí. Certamente, o governador e demais políticos não desprezaram os votos da população de Pinheirinho, nem mesmo lembraram-se, no ano anterior, que a população ali instalada necessitava de um lugar para morar.

Pois bem. O governo é eleito pelo povo e está a serviço da população, incluindo os seres humanos, cidadãs e cidadãos votantes de Pinheirinho. Este mesmo governo possui inúmeros servidores públicos, dentre eles, os policiais que efetuaram o ataque à população de moradores de Pinheirinho, 1,5 mil famílias, que não eram compostas unicamente por traficantes, vagabundos, marginais e invasores, mas de crianças, jovens, mulheres, idosos e idosas e homens que procuravam um lugar para viver.

Na verdade, quem acredita em Deus, também deve acreditar que a terra é de Deus. Deve saber também que esse mundo é emprestado a todos os seres humanos para que dele desfrutem fraternalmente. No entanto, não é bem assim que acontece, principalmente quanto ao “fraternalmente”.

Existem muitas pessoas que se consideram no direito de possuir e acumular propriedades extensas, enormes espaços do mundo de Deus, para sabe-se lá o quê. Afinal, todo mundo morre um dia e nada leva daqui, a não ser as lembranças boas ou dolorosas da vida que teve nesse mundo de Deus.

Voltando ao governo, que está a serviço do público, ou pelo menos deveria estar, noticiou-se muito que sua ação estava a serviço do cumprimento da lei. Acreditando que o governo conheça bem a lei, que o governador e seus companheiros são alfabetizados e possuem capacidade suficiente para interpretar textos, é difícil pensar que na lei esteja disposto que se deva usar a violência para uma desocupação de moradores pobres. Mais difícil ainda é entender por que o governo, que está a serviço da população que o elegeu, defende interesses de um indivíduo e não do coletivo. Sim, e o indivíduo em questão é o senhor Naji Nahas “proprietário” do local e que já foi preso por crimes financeiros e lavagem de dinheiro. É possível refrescar a memória sobre esses fatos com uma rápida pesquisa na internet.


Não se sabe ao certo como Nahas adquiriu essa propriedade. Segundo o site http://pt.globalvoicesonline.org/2012/01/24/brasil-pinheirinho-massacre/ “(Nahas) passou a proprietário do terreno no início dos anos 80 embora não exista informação sobre como foi feito o processo de aquisição após o assassinato nunca solucionado dos antigos donos, em 1969.”


Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6M5X-9z4WYPBW3o3gwE_pGYTIf2qECGld-3jnqYP_X6SA-FjA9i7szPM19ZmB19Ys-QK7Hd3_jmIoOdfa6hPTcVz3iZ1BM20vwzLLw3E83QGkw87x51zpqTBymY5Pz15oH4-gC7sS5qg/s1600/pinheirinho.jpg acesso em 01/04/2012.

Segundo o delegado Protógenes Queiroz, a situação falida de Nahas e sua empresa, SELECTA, tem profunda ligação com o acontecimento em Pinheirinho. Para ele: "Se a região for vendida, esse valor será descontado da massa falida da Selecta, que se abaterá das dívidas que estão no nome de Naji Nahas. Ele é interessado direto em desalojar as pessoas que estão lá.” (http://pt.wikipedia.org/wiki/Naji_Nahas#cite_note-GlobalVoice-14).

Dessa forma, é difícil saber quem realmente é o criminoso na história: o povo que busca um lugar para viver ou o “dono” da propriedade e suas contas duvidosas.

Para piorar a situação, há ainda uma denúncia de que houve violência sexual praticada pela polícia em duas mulheres, uma delas menor de idade. A denúncia veio do senador Eduardo Suplicy e gerou discussões no senado.

Entretanto, a questão da terra não se torna um problema apenas no Brasil. Em comunhão com nossas irmãs e irmãos indígenas awás, ao norte do Equador e ao sul da Colômbia, devemos nos atentar para a verdadeira invasão de mineradoras ilegais. Essas mineradoras querem comprar as terras dessa gente para explorar todos os recursos e acabar com a natureza local cujos rios já estão contaminados. Segundo Juvencio Nastajuaz, pai de 7 filhos e líder da comunidade de Pambilar, uma das 22 que formam a Federação de Centros Awás do Equador (FCAE): “Nós vivemos semeando nossa horta para sobreviver, colhendo frutos e caçando animais” “"Elas [mineradoras] querem comprar nossas terras, mas não aceitamos. Oferecem dinheiro, mas sabemos que se vendermos tudo será destruído" .**
 
Os indígenas Munduruku do Pará também sofrem com a pressão e promessas de riquezas da Celestial Green, empresa irlandesa que comercializa créditos de carbono. A tal empresa se declara proprietária dos direitos ao crédito do carbono de 20 milhões de hectares da Amazônia brasileira. Segue um trecho da reportagem disponível em http://br.noticias.yahoo.com/a-terra-é-dos-indios-e-o-carbono--é-de-quem-.html?page “Primeiro, ele [representante da Celestial Green] falou que o projeto é para defender os povos indígenas. Disse que não podia mais mexer na terra, nem branco nem indígena. Quando ouvi essa conversa, era bom”, conta Osmarino Manhoari Munduruku, cacique de uma das 111 aldeias onde vivem mais de 6 mil Munduruku. “Depois, ele mandou o papel para associação. Nós vimos que, onde esse projeto tá, não pode fazer roça, nem caçar, nem pescar. Hoje estamos acostumados de plantar mandioca, batata, cana, batata doce, banana. A gente pesca, caça, tira madeira quando precisa. Mas eles dizem que não podia mais, eles mesmos iam dar o dinheiro para comprar os alimentos. E os indígenas não pode mais fazer nada, nada, nada. Aí a maioria achou que não é certo”.
Fonte: http://tribunodahistoria.blogspot.com.br/2010/06/os-primeiros-anos-da-colonizacao.html acesso em 01/04/2012.

Diante de todos esses acontecimentos e com a chegada da Quaresma, seria interessante fazer uma leitura atenta ao texto do evangelho de Mc 12, 13-17 e prestar uma atenção especial à pergunta que os fariseus e os partidários de Herodes fizeram a Jesus: “É lícito ou não pagar o imposto a César? Devemos pagar ou não?”(vs. 14) e Jesus responde: “Devolvam a César, o que é de César e a Deus o que é de Deus” (vs 17). Porque perguntam a Jesus se se deve pagar imposto? Havia quem não pagava? Porque não pagar?

Num país em que tantas pessoas reclamam dos altos impostos, devemos perguntar se é lícito pagar imposto por aquilo que Deus nos deu. Devemos perguntar se é lícito pessoas morrerem para que saiam da terra que Deus lhes deu. Devemos perguntar se é lícito que, em nome da ganância, do egoísmo e do coração duro, indígenas devem ter seu lar destruído.

Jesus, após pegar a moeda com a imagem do imperador, diz para devolver a César o que é realmente de César, ou seja, a moeda e não a terra. César não é dono da terra. Jesus não fala diretamente que não se deve pagar imposto a César. Declarar isso seria se rebelar abertamente contra os romanos e a consequência seria a morte imediata. Não é justo pagar imposto a Roma . Os romanos invadiram (tal como as mineradoras, tal como a polícia) a terra do povo. A terra é de Deus!


Fonte: http://educador.brasilescola.com/estrategias-ensino/a-questao-terra-no-brasil.htm acesso em 01/04/2012.


Infelizmente, muitos hoje ainda aceitam e entendem que é legítimo que poucos tenham muito e que muitos tenham pouco. Aceitar as desigualdades sociais, seja por qualquer motivo, é acomodar-se à injustiça, é repousar no conforto do egoísmo, é não querer entender o que está por trás das cortinas da alienação. O profeta Isaías já denunciava: "Ai dos que juntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo até que não haja mais espaço disponível". (Is 5, 8)

Deus nos fez para viver neste planeta e aqui aprender a partilhar e viver em harmonia. Tudo que Deus criou tem o bem como finalidade. Nós é que colocamos inúmeros obstáculos com nossas imperfeições.

No entanto, é preciso saber que Deus é justo e, por meio de Jesus, ele nivela as desigualdades. Ele ressuscita o justo, alimenta o pobre e consola a viúva.

*Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/vamos-precisar-de-cinco-planetas-terra-diz-sha-zukang-4224746#ixzz1oodeDqgo acesso em 11/03/2012. © 1996 - 2012. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização.